Avatar

Avatar ★★★★★

Quando Avatar foi lançado, lá em 2009, não me importava muito com o cinema. Não falo apenas em ir assistir aos filmes nos cinemas, mas também não me importava em dar o devido valor às obras. Mesmo quando admirava um filme e isso acontecia quando o mesmo me trazia alguma boa reflexão, eu levava o cinema como um produto simples e escapista - o que ainda hoje faço, mas com moderação e sempre com algum senso crítico.

E foi neste contexto que assisti a Avatar pela primeira vez. Provavelmente numa TV pequena, com uma dublagem porca, som stereo, atentando apenas ao roteiro e atuações e não dando a mínima para a experiência imersiva que tanto prezo hoje em dia. Agora, um pouco mais velho, com uma mínima bagagem para apreciar o cinema em todos seus aspectos (direção, fotografia, design de produção etc) e atendendo às exigências que tenho para ter uma experiência minimamente imersiva - uma TV grande, áudio original, som surround 5.1, sala escura e zero distrações - pude desfrutar e dar o devido valor a esse filme.

No ano 2154 d.C., a corporativa humana RDA explora minério na lua Pandora. Na exuberante lua vivem os Na'vi, seres que parecem primitivos mas são complexos culturalmente. Como o ambiente da lua é tóxico para humanos, pesquisadores coordenados por Dra. Grace Augustine (Sigourney Weaver) criaram o Programa Avatar, híbridos humano-Na'vi geneticamente modificados que por meio de conexões neurais com um humano de material genético compartilhado podem circular livremente por Pandora, a fim de aprender sobre Pandora e os Na'vi.
Jake Sully (Sam Worthington) é um ex-fuzileiro paraplégico, que após a morte do irmão gêmeo vai para Pandora querendo dinheiro para uma operação que o curaria da paralisia. Inicialmente ele trabalha como um espião para o líder do grupo de ex-militares, o Coronel Miles Quaritch (Stephen Lang), dando informações essenciais para a exploração das reservas do minério Unobtainium, que ficam sob a Árvora-Lar dos Na'vi. No entanto, ele acaba se apaixonando pela cultura Na'vi e pela guerreira nativa Neytiri (Zoë Saldaña), esta paixão leva Jake a lutar pela sobrevivência dos Na'vi e de Pandora.

A história é tradicional, já vimos parecidas no cinema. A velha história do forasteiro colonizador que se encanta pela cultura (ou uma mulher) local e junta-se na luta contra os colonizadores. Quem já assistiu a Dança com Lobos, Pocahontas e O Último Samurai, certamente percebeu a semelhança. Mas apesar da tradicionalidade, a história é eficaz, garantindo o engajamento emocional necessário para nos importarmos com os personagens. Mas o que endossa esse engajamento emocional e eleva Avatar a não apenas uma eficaz e, sim, a uma grande experiência cinematográfica é a sinergia entre a fotografia, efeitos visuais e design de produção. O que já percebe-se na primeira sequência onde Jake Sully, através de seu avatar, consegue após anos mexer seus dedos dos pés, andar e correr pelas instalações da RDA. Logo após ficarmos felizes com essa sua conquista, percebemos no segundo plano do protagonista, em um ângulo contra-plongéé, o imponente e gigante planeta gasoso Polifemo, assim como vemos ao seu redor parte da bela flora de Pandora, nos dando uma imensa vontade de conhecer mais daquele lugar. Sentimento nitidamente partilhado por Jake e seu avatar, que volta a nos deslumbrar pelo nível de detalhes das expressões que a tecnologia de captura de performance oferece. E ele, por ser novato em Pandora, é o ponto de vista perfeito para fazer o elo com o público. Quando Jake conhece e se maravilha com alguma beleza de Pandora, nós também conhecemos e nos maravilhamos.

A medida que a trama avança, James Cameron realiza de maneira obsessiva, implacável e impecável uma grande e minuciosa exploração do novo mundo na lua de Pandora.
James não nos limita a nada, sempre adicionando camadas e mais camadas de mais pura imaginação e reinvenção das florestas tropicais e tribos indígenas/africanas que conhecemos na Terra: A tribo dos Na'vi. nativos que adoram a deusa da vida, Eywa; A incrível fauna, com destaque para o alado Toruk; A flora fluorescente, onde nos deliciamos com os passeios de Jake e Nyetiri.
Em meio as boas subtramas do filme, como: A crescente amizade entre Jake e Dra. Grace Augustine e seus cientistas; O funcional grupo de ex-militares mercenários comandados pelo inexorável Coronel Miles Quaritch; O passado da Dra. Grace com a tribo Na'vi; Temos a trama principal que reside na excelente relação entre Jake e os Na'vi, onde ele aprende os principais costumes dos nativos até se tornar um deles. O destaque da trama principal, sem dúvida, vai para o casal Neytiri e Jake que possui uma química invejável. E Saldaña, com sua força e carisma, traz uma performance espetacular e memorável, digna de todos os elogios e que não se limita em ser apenas o interesse amoroso do protagonista. Tudo isso é montado e editado precisamente, deixando o filme com um ritmo sem falhas.

É fundamental ressaltar que James não utiliza a revolucionária tecnologia de efeitos visuais como um produto narrativo e, sim, como uma ferramenta narrativa. Ferramenta que sempre serve à história, nunca ao contrário. É uma linguagem cinematográfica essencial, dando personalidade, alma e (re)criando um mundo. Fazendo de maneira orgânica os personagens e o público se importarem com Pandora e, consequentemente, com o filme como um todo. Portando, é absolutamente errôneo afirmar que Avatar é ruim porque o filme é efeitos visuais e nada mais.

Com sua história eficaz, ritmo perfeito, sequências de ação de tirar o fôlego, personagens cativantes e (re)criação de um novo mundo fascinante que serve à história, Avatar se tornou um marco; é o maior fenômeno de público do cinema moderno e um salto tecnológico em efeitos visuais como linguagem cinematográfica.

Um dos grandes filmes do século XXI.

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