“Era a Terra sem forma e vazia; trevas cobriam a face do abismo.”
Genesis 1:2
Certa vez, Béla Tarr disse que "O Cavalo de Turim" é sobre “o peso da existência humana, a dificuldade da vida diária, a monotonia da vida”. No filme, durante seis dias, o fogo é aceso, a água é retirada do poço, a batata é cozida, a batata é comida, a aguardente é bebida, a roupa é retirada, a roupa é posta. Os ângulos mudam, acompanhamos…
Como um todo, "Crimes Of The Future" merece uma estrela, mas dei meia estrela a mais por causa do último plano, que, mesmo estando num filme muito ruim (atualmente, Cronenberg encontra-se muito mais próximo de "Titane" do que de "Crash" e "Videodrome", e isso diz tudo), é poderoso.
Villeneuve é a mistura nefasta do Christopher Nolan com o Terrence Malick: igual à de Nolan, sua condução fria e cerebral descamba no didatismo e na completa esterilidade psicológica, dramática e formal; igual ao de Malick, seu desejo contínuo de produzir imagens "belas e poéticas" resulta numa plasticidade inócua e decorativa, a qual se assemelha a uma sequência infindável de papéis de parede de computador.
Concordo com o James Gray quando ele diz que, atualmente, ninguém sabe escrever roteiros. Exceções à parte (o próprio Gray é uma), a debacle é geral e indiscriminada. E por que começo meu comentário dessa forma? Porque o que há de melhor em “The Batman” é justamente o roteiro, e bons roteiros são raros hoje em dia.
Se “The Batman” funciona, é porque os personagens e a trama estão interligados de uma maneira coesa. Há organização, lógica interna e cadência.…
