Juan "le Poète" Logan’s review published on Letterboxd:
Eu nunca havia ouvido falar sobre o Shang-Chi, então entrei nessa dimensão com o máximo de atenção possível, e me surpreendi, pois é um excelente filme, que explorou muito da cultura oriental, honrando-a desde os filmes pioneiros de kung fu dos anos 80, só que agora sob uma perspectiva mais... moderna.
Não deixei de notar que Xu Wenwu (Tony Leung), o portador dos dez anéis, lutou sozinho contra um exército igual ao Drácula no jogo Castlevania: Lords of Shadow 2. A movimentação da câmera e os golpes em formato de chicote remeteram-me ao jogo, que fez parte da minha adolescência.
Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis não é bem um filme engraçado. Ele tenta descontrair, mas no início acaba sendo muito enfadonho. Essa descontração só terá sua efetividade da metade para o final do filme.
De qualquer forma, o filme é cheio de diferenciais. Conseguiram pegar uma excelente parcela da cultura oriental tradicional, mesclando-a à modernidade. As lutas são excelentes e lindas, como se fossem um espetáculo de dança e uma expressão crua da luta como uma forma de arte.
Ter o passado fragmentado é interessante, se souber revelar as informações na hora certa. Em Shang-Chi isso foi bem realizado. Por ser um passado relativamente diferente do comum, cheio da severidade e disciplina e conduta de guerra, me interessei sempre que a narrativa alternava e voltava para as cenas do passado, junto das explicações.
A coloração dos ambientes está incrível. Tudo muito vívido e bonito, desde o urbano até às aldeias. Certas cenas remeteram-me a filmes clássicos como O Clã das Adagas Voadoras (2004) e o estilo punho de aço Shaolin, que popularizou-se em todo o meio midiático, tornando-se um certo estereótipo do Kung Fu tradicional.
Todos os confrontos são cheios de ação, e dentro do MCU, esse é o filme que mais teve combate direto, sem economia de verba para produzir excelentes coreografias, disputas e efeitos especiais. Alguns cenários urbanos noturnos e a cena final remeteram-me ao movimento cyberpunk. Essa originalidade ficou boa, e as diversas músicas que inseriram durante o filme ganham uma ‘pegada’ gangster em Hong Kong, estilo o jogo Sleeping Dogs.
Com a transação de cena para a outra dimensão, fiquei maravilhado com o bioma, o design e arquitetura de toda a cultura oriental representada, a fauna e o figurino. Não pouparam esforços para trabalharem esses pontos, e isso trouxe uma qualidade excelente para o filme, junto às criaturas divinas (e profanas) que aparecem no final do filme.
Meu incômodo está no ambiente. O filme se passa em poucos locais, e isso dá uma sensação de vazio. Além disso, entendo que os soldados (ou mercenários) do líder da facção Os Dez Anéis estão modernizados, assim como o próprio o fez, mas o visual não agradou-me muito.
O antagonista não é de todo mal. Sinceramente, não me importei muito com ele. Fiquei mais interessado pela jornada e pelo místico. Essa aventura foi divertida, apesar de não ser o principal. Sobre Xu Wenwu, fico confuso sobre sua falta de expressão. Acredito que o personagem teria mais impacto caso sua aparência fosse um pouco mais tradicional junto de mais expressões de determinação, dúvida e preponderância.
Sobremaneira, também não consegui ver nas expressões seus filhos (Shang-Chi, interpretado por Simu Liu e Xialing, interpretada por Meng’er Zhang) qualquer tipo de ódio, raiva, pena, afeto ou algo semelhante, pelo pai deles. O drama narrativo foi bom, mas não o suficiente. Tinha tudo para ser mais intenso, mas a atuação não colaborou. Melhor: a direção, nesse aspecto, não soube conduzir.
Até o momento, Shang-Chi é um peregrino indo onde o vento o leva. Mas em determinado momento, começamos a viver sua jornada de descoberta e redescoberta. Tanto ele, como sua irmã. Apesar de ser em um momento bem tarde no filme, foi o suficiente para agradar, mas poderia ter sido construído com mais esmero em momentos anteriores.
O portão místico, selado, evoca uma ótima ideia de curiosidade e admiração pelo desconhecido. O local foi bem produzido e traz essa relação de “proibido”.
Mandarim foi aquele quem trouxe um bom alívio cômico, junto à Katy (Awkwafina). No início, a personagem não me entreteu, mas depois de certo tempo, soou mais natural a ideia de a personagem ser daquele exato jeito que ela estava sendo.
A direção e os produtores de arte fizeram um excelente trabalho técnico. É um filme lindo, cheio de efeitos especiais coesos. Adicionaram muito slow motion também, que teve boa sinergia com os conflitos mais agravantes no final da obra. É um filme épico e bem trabalhado, que apesar de mal explorado em alguns pontos, foi recompensado em outros (principalmente nas cenas com o dragão).
Felizmente, ganhou um bom final, que abre portas para encaixar-se a um dos personagens que mais têm correlação com o místico. Curiosamente, a narrativa me prendeu tanto que nem questionei-me sobre a origem dos anéis, então com a revelação final de sua natureza, fiquei instigado a saber como serão os próximos filmes, e qual é o conflito agravante que estão planejando, tendo em vista que as séries correlatas do MCU já apresentaram alguns indícios.